Ai, Manel! Esta máquina que compramos é tão linda!
Podia ser assim que começaria o meu conto, mas não é.
Na realidade a máquina é linda mas... ninguém sabe trabalhar com ela. Não é pelos mostradores em inglês, nem pelas instruções em espanhol, nem pelo fabricante francês e muito menos pelo vendedor alemão. Com todos eles ou elas ou letras e palavras sei e posso eu bem. O problema é outro...
A máquina parece ter vida própria, vontade única e solitária, independente da minha. Se coloco roupa no tambor, logo a expulsa com um único movimento de rotação. Se escolho o programa 1, para roupa normal, logo a roupa sai encharcada e quase desfeita porque a máquina escolheu o programa 10 para sintéticos. A máquina parece sempre ter uma ideia melhor que a minha para a roupa que lá coloco. Aliás, e ainda não o referi, a máquina fala!
Sim, fala! Não como um vendedor, que tudo proclama como "do bom e do melhor". Ou como um político, que de tudo diz saber, ser o melhor, muito falar, e ninguém perceber. A máquina sabe o que diz. Não é nem "bom dia" ou "boa noite", não é lá muito educada. Diz antes que a "água está quente, ainda me queimo" ou "tanto detergente, ainda me fazes perder a tinta" ou ainda "não abuses no amaciador que me dás cabo da resistência".
Só não me diz qual o programa que devo usar. Só não me diz qual a temperatura mais adequada, a quantidade de detergente para a sujidade da roupa ou se o amaciador é o melhor para os tecidos e cores.
Agora, que nada mais sei o que fazer com ela, deixo-a parada, a um canto, onde vai lentamente passando o tempo a olhar pela janela. Sei que está feliz, não reclama, brilha mais do que no dia em que chegou a casa.
Alguém tem um tanque dos antigos para eu lavar a minha roupa???